quinta-feira, 16 de junho de 2011

Projeto repatria acervo com documentos da Ditadura MilitarPDFImprimirE-mail

Cerca de 4 mil registros voltam ao país para serem digitalizados e incorporar o acervo do Brasil Nunca Mais.
 
Após a ousadia de reunir clandestinamente um extenso acervo sobre a Ditadura Militar no Brasil, nesta terça-feira (14) o projeto Brasil: Nunca Mais lançou sua versão digital em ato realizado em São Paulo. Na mesma solenidade, cerca de 4 mil documentos que haviam sido enviados ao exterior para escapar da repressão foram repatriados. Aproveitando a presença da Procuradoria República, servidores fizeram uma manifestação pela aprovação do plano de cargos e salários.

Entre 1979 e 1985, religiosos progressistas souberam que os processos da Justiça Militar poderiam ficar até 24 horas de posse dos advogados dos envolvidos. Assim, um grupo de advogados passou a fazer cópias secretas dos documentos. O material era então enviado de Brasília para São Paulo, onde era organizado por voluntários e enviado para o exterior.

Idealizado pela advogada Eny Raimundo Moreira, o projeto Brasil: Nunca Mais era realizado por um grupo de religiosos e advogados coordenados por Dom Paulo Evaristo Arns e pelo reverendo Jaime Wright. O projeto nasceu com o intuito – exitoso – de evitar o desaparecimento de vários documentos durante o processo de redemocratização do país e tem como produto um livro homônimo. Atualmente, o Brasil: Nunca Mais está na 37ª edição. Lançado em 15 de julho de 1985, ele foi reimpresso mais de 20 vezes nos dois primeiros anos.

O trabalho sigiloso teve como resultado cerca de um milhão de cópias de documentos do Superior Tribunal Militar. Microfilmadas, as cópias foram enviadas para o exterior, sob os cuidados do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), para ficarem protegidas e escaparem da possível apreensão. 707 processos completos e dezenas de processos incompletos já fazem parte do projeto Brasil: Nunca Mais – leia aqui o relatório produzido a partir desses documentos.

Nesta terça-feira (14), o Conselho Mundial de Igrejas e o Center for Research Libraries (EUA) entregaram cópias de seus acervos, que reúnem pelo menos 4 mil documentos mantidos no exterior, à Procuradoria-Geral da República, representada pelo subprocurador-geral da República, Aurélio Virgílio Veiga Rios. Essas cópias serão agora digitalizadas para compor o projeto Brasil Nunca Mais Digital. O conteúdo estará disponível na internet, através da página do Arquivo Público do Estado de São Paulo.

O Ato de Repatriação do Acervo do Brasil: Nunca Mais, realizado pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, pelo Ministério Público Federal e pelo Armazém Memória, homenageou quatro personagens. O primeiro foi Dom Paulo Evaristo Arns, que enviou uma mensagem dizendo que não compareceria porque não merece homenagens. Lida a mensagem, o público o aplaudiu de pé durante alguns minutos. O segundo foi o reverendo Jaime Wright, que foi representado por sua filha, Delore Wright.

O terceiro homenageado foi o ex-secretário de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vanucchi, que aproveitou a ocasião para pressionar as Casas Legislativas: “o Poder Legislativo não pode perder a chance de aprovar a Comissão da Verdade, pois já temos 22 anos de democracia consolidada no Brasil”, disse Vanucchi. A quarta e última homenageada foi Eny Raimundo Moreira, que pediu um novo aplauso a Dom Paulo Evaristo Arns: “Dom Paulo não está falando a verdade, ele merece todas as homenagens. Quero que ele receba este recado: o senhor foi aplaudido de pé duas vezes por este auditório”.

Do lado de fora do auditório da Procuradoria Regional da República, 3ª Região (São Paulo), cerca de 50 servidores aproveitaram a presença do subprocurador-geral da República, Aurélio Virgílio Veiga Rios, para reivindicar a valorização dos servidores e a aprovação do plano de cargos e salários. A categoria está mobilizada pela pauta em todo o país e nesta terça-feira (14) houve paralisação em São Paulo dos servidores da Procuradoria da República (PR) e da Procuradoria Regional da República (PRR).

Por Luana Bonone, no Portal Vermelho.

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