O Brasil desmontou uma estrutura de ponta de combate ao mosquito da dengue, construída no passado por gente como os médicos Emílio Ribas e Adolpho Lutz, o homem que foi até cobaia do Aedes aegypti na luta contra a febre amarela. Na batalha, o inseto vetor chegou a ser erradicado do País entre 1958 e 1967. Hoje, as campanhas oficiais do governo repassam a responsabilidade do combate à dengue à população, que sofre com epidemias cada vez piores.
A avaliação é de Rodrigo Cesar da Silva Magalhães, doutor em História da Ciência e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, autor da tese “A campanha continental para a erradicação do Aedes aegypti da OPAS e a cooperação internacional em saúde nas Américas (1918-1968)”, concluída em 2013 e premiada como melhor tese de 2014 pela Sociedade Brasileira de História das Ciências (SBHC).
No combate à dengue, segundo ele, “faltam vontade política e investimentos para que a guerra seja vencida”.
Abaixo, trechos da entrevista.
O seu estudo conta que o Brasil já esteve livre do Aedes aegypti. Como se conseguiu isso e quando aconteceu?
Sim. Em 1958, durante a 15.ª Conferência Sanitária Pan-Americana, realizada em San Juan, Porto Rico, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) declarou o Brasil livre do Aedes aegypti. Nos nove anos seguintes, o inseto não foi encontrado no território brasileiro, até reaparecer em Belém, em 1967. Essa conquista do campo médico-sanitário nacional foi resultado de campanhas contra a febre amarela desenvolvidas no País desde as primeiras décadas do século 20 e que, a partir dos anos 1920, tiveram a participação da Divisão de Saúde Internacional da Fundação Rockefeller, que em 1918 havia lançado uma campanha mundial de erradicação da doença.
Qual foi o método usado para a erradicação do mosquito?
O método foi a eliminação do vetor. Tais campanhas tiveram êxito em livrar as cidades da febre amarela por períodos prolongados, mas a doença reaparecia. A epidemia de 1928-1929 no Rio é o exemplo mais dramático dessa realidade. Este foi o método que levou à erradicação da espécie do Brasil e de outros dez países das Américas em 1958.
A dengue voltou com força nos últimos anos. Como analisa o atual combate ao mosquito?
Em virtude do desmonte da estrutura permanente de combate à dengue e vigilância epidemiológica nas últimas décadas, o combate ao mosquito transmissor só é feito quando eclodem as epidemias. Ou seja, apenas quando a situação assume um certo grau de gravidade é que surge a preocupação em combater o inseto. O ideal seria que as atividades de combate ao mosquito fossem permanentes.
Há especialistas que dizem que o mosquito venceu a guerra.
Não sei se o mosquito venceu a guerra ou se o poder público é que não entrou nela. Faltam vontade política e investimentos para que a guerra contra a dengue seja vencida.
fonte:Pablo Pereira ESTADÃO.
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