quinta-feira, 19 de abril de 2012

Todo mundo quer ouvir os "ais" de Nélson

Qui, 19/04/12 11h23
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Um dos cantores das multidões em seu tempo, Nélson Gonçalves disputou com Orlando Silva e outros seresteiros a preferência feminina nos anos 1940 e 1950. Ultrapassou problemas com drogas e com o tempo, conseguindo renovar-se cantando com jovens talentos e sendo cantado por inumeráveis intérpretes de todas as épocas.
Por Christiane Marcondes, do Vermelho
Em 18 de outubro de 1998 a voz calou, mas a lembrança fica. Como de praxe na passagem da data, muitos shows pelo Brasil afora revivem seu repertório. Em São Paulo, o Bar do Nelson, que pertence à filha do cantor, Lilian Gonçalves, apresenta show do designer de jóias, Guerreiro, a partir das 22h desta quarta-feira (18) . Acompanhado do quarteto formado por sax, baixo, bateria e teclado, o artista homenageará Nelson interpretando algumas de suas consagradas canções.
Rei do Rádio
Em 1941, o cantor gravou seu primeiro disco, pela Victor, no Rio de Janeiro. Teve uma boa repercussão, mas a consagração veio mesmo no ano seguinte, quando gravou o samba "Isso aqui tem dono", de Benedito Lacerda e Darci de Oliveira, e o fox "Renúncia", de Roberto Martins e Mário Rossi, com o qual conquistou, posteriormente, o título de "Rei do Rádio", em concurso promovido pela "Revista do Rádio". Este fox inclusive tornou-se um de seus prefixos musicais. No mesmo ano gravou os sambas "Ingrata", de Zé Pretinho e Nelson Trigueiro e "Ninguém quer ouvir os meus ais", de Nássara e J. Cascata.
Nélson imortalizou músicas, até hoje reproduzidas em serenatas. Eram tempos românticos em que a mulher era tanto a salvação como a perdição dos homens em letras de músicas como “A deusa da minha rua”, que tanto Orlando quanto Nelson gravaram.
Aos homens, só restava tirar seus chapéus (naquele tempo todos usavam) diante dos ídolos que faziam suas mulheres gritarem e desmaiarem. Outra opção era contratarem violeiros e emprestarem suas vozes em serenatas diante das casas das amadas, com o risco de, ainda assim, serem rejeitados.
A musa normalista
Em 1949, com o samba "Normalista", de Benedito Lacerda e David Nasser, chegou ao pico da popularidade, e se manteve em alta gravando no ano seguinte "Ave Maria no morro", de Herivelto Martins; "Só eu", de sua autoria e Geraldo Gomes; "Bons tempos aqueles", de Marino Pinto e Adollar, e "Mensageira dileta", de Norberto Martins.
Também compunha: em 1962, gravou o LP "Eu e minha tristeza" apenas com composições suas e de Adelino Moreira, não em parceria, mas individualmente, como "Um anjo dança comigo"; "Desejo"; "Piedosa mentira" e "Falando ao coração", de Adelino Moreira e "Só você"; "Esquerdo do amor"; "Tristeza" e "Tão só", de sua autoria.
Trabalhava incansavelmente, lançando regularmente um disco por ano. Em 1969, lançou o LP "Apelo", música título de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Foi a estreia na bossa nova, empreitada reforçada em 1970, quando gravou "Só nós dois", LP que traz "Insensatez", de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e "Foi um rio que passou em minha vida", de Paulino da Viola.
Duetos com grandes nomes
Diplomado e doutorado em boemia, lançou em 1972 o LP "Sempre boêmio" no qual interpretou a famosa "O último boêmio", de Adelino Moreira, além de obras de novos compositores como "Desmazêlo", de Antônio Carlos e Jocafi.
Durante as décadas de 1970 e 1980, gravou e fez apresentações por todo o Brasil, mantendo estável o padrão de popularidade que sempre teve em décadas anteriores.
Em 1984, a gravadora RCA o homenageou reunindo Nelson e boa parte do melhor elenco de cantores e cantoras do Brasil na regravação de seus sucessos. Assim foram lançados os LPs "Ele e elas", em 1984, "Eu e eles", em 1985 e "Ele e elas", Vol. 2 em 1986.
Em 1987, pela primeira vez desde que começou a gravar, passou um ano sem lançar nenhum disco. Voltou aos estúdios no ano seguinte, gravando LP com a música "As vitrines", de Chico Buarque.
Em 1990, lançou o primeiro disco gravado ao vivo: "Nelson Gonçalves ao vivo - 50 anos de boemia" interpretando grandes clássicos de seu repertório como "Fica comigo esta noite", parceria com Adelino Moreira.
Em 1997, lançou o CD "Ainda é cedo", que seria o último, e renovou seu repertório com interpretação de novos compositores ligados ao rock brasileiro, caso da Legião Urbana, Lobão, Nelson Motta, Lulu Santos, Herbert Vianna, Caetano Veloso, Paula Toller e Herbert Vianna.
Só perdeu para o Roberto
Durante toda a sua carreira, foi contratado com exclusividade da RCA Victor, onde gravou cerca de 120 LPs e 20 CDs. Vendeu cerca de 50 milhões de discos e recebeu 15 discos de platina e 41 de ouro.
Em 1998, foi enterrado ao som de seu maior sucesso, "A volta do boêmio", de 1956, e com uma bandeira do Flamengo sobre o caixão. O velório, na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio, reuniu mais de 600 pessoas, entre fãs, parentes, amigos e artistas. Foi, segundo especialistas, "o segundo cantor que mais vendeu discos na história do país - 78 milhões de cópias, perdendo apenas para Roberto Carlos.

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