Por Leone Valença
Não é só com discurso que se realiza um sonho. O orador deixa extasiada a multidão contando detalhes desse sonho. Desenha na cabeça dos ouvintes, os planos da obra idealizada. A multidão aplaude hipnotizada face ás minúcias do projeto. Todo mundo quer participar da iniciativa em benefício da coletividade. Tudo muito bonito. Mas, é só.
Quando o idealizador parte para a concretização do projeto, o comportamento da coletividade é outro. E é, justamente por isso, que grandes projetos, na maioria das vezes, não vingam. Todo projeto, pequeno ou grande, tem uma história de luta, de sacrifício. Não deveria ser assim. Mas infelizmente, é.
Com a criação do Colégio Lenita Fontes Cintra não foi diferente.
Zé Mota, o seu idealizador e fundador, comeu - com rima e tudo - o pão que o diabo amassou para ver o seu sonho concretizado.
Ainda que possa parecer fantasioso, o sonho do Lenita começou a concretizar-se num domingo de carnaval, na casa de Adauto Paiva, nos idos de 1950. Em meio a marchinhas, sons de vozes e violões; enquanto Zé Mota tomava o seu copinho - copinho é força de expressão - de bate-bate de maracujá, veio à tona um assunto sério. Mexeu-se na ferida maior dos são-bentenses na época: a ausência de um colégio na nossa terra. Dona Feliciana Paiva, esposa de Adauto Paiva, imediatamente passou a bola para o prefeito-folião que, entre animado e desafiado, garantiu alto e bom som, que São Bento do Una não ficaria sem o seu tão sonhado colégio. E não deu outra; pelo clarim do não menos folião o vereador Alfredinho Cintra, também entusiasta da ideia, foi apresentando à Câmara o projeto de criação do primeiro colégio oficial de São Bento do Una. Daí pra frente enormes dificuldades surgiriam, todas felizmente superadas. Deus e Zé Mota sabem disso.
A luta pela obtenção de meios foi árdua. Até um circo, daqueles sem cobertura, tipo penico sem tampa, foi utilizado na angariação de dinheiro. A pedido do Prefeito José do Patrocínio Mota, o proprietário do circo concordou em dividir as rendes das noitadas em benefício do colégio. E o circo ganhou, assim, um novo bilheteiro: Zé Mota, que saiu de casa em casa vendendo ingressos. E, pasmem, houve quem recusasse colaborar...
Quando o problema financeiro foi satisfatoriamente resolvido, a Prefeitura viu-se diante de outro obstáculo: a iminente vistoria do Ministério da Educação. Nessa análise inicial, o Lenita foi reprovado pela ausência de um laboratório de ciências, o que foi imediatamente resolvido, através do Monsenhor Adelmar da Mota Valença, na época diretor do Diocesano de Garanhuns, que cedeu, por empréstimo, quase todo o acervo laboratorial daquele tradicional educandário.
Conta Zé Mota:
- Viajei de Garanhuns a São Bento, trazendo num carro tudo quanto eram frascos de cobras, lagartos e caranguejeiras...
O último item da inspeção aprovado pelo MEC, referia-se ao número de alunos exigidos. Temendo não satisfazer tal exigência, apresentar-se-ia diante da recém criada direção do Lenita, o primeiro aluno ao primeiríssimo exame de admissão ao ginásio. Quem?
Zé Mota!
Portanto, saibam todos os são-bentenses, de todas as idades, de todas as latitudes: o consagrado Colégio Estadual Lenita Fontes Cintra, nasceu do sonho de um homem obstinado, teimoso, maravilhosamente teimoso. Nasceu porque Zé Mota assim o quis. E fim de papo!