Com a morte do ex-deputado José Mendonça, foi-se o último discípulo do ex-governador de Pernambuco, Paulo Guerra, que o ensinou ainda na fase pré-64 que ''em política se deve ter lado''.
E o lado dele sempre foi um só: o das forças que após a queda de Miguel Arraes em 1º de abril daquele ano se aglutinaram inicialmente na Arena, que depois virou PDS, que depois virou PFL, que depois virou DEM, embora nunca tenha sido um reacionário.
3- Era um político de pavio curto, mas de coração largo, capaz de reconhecer o erro eventualmente cometido e de pedir desculpas ao ofendido. Foi-se também um dos últimos remanescentes da geração que começou a fazer política em Pernambuco após o triunfo dos militares, embora ainda se sentisse com saúde e garra suficientes para enfrentar seu último desafio eleitoral: a disputa pela prefeitura de Belo Jardim, no próximo ano, com apoio do prefeito e seu liderado político Marcos Coca-Cola.
4- De Brasília ele não queria mais saber após ter cumprido oito mandatos consecutivos na Câmara Federal. A tarefa de representar o Agreste de um modo geral e Belo Jardim, de modo particular, naquela Casa do Congresso, ele já havia transferido para o primogênito, Mendonça Filho, e para o genro, Augusto Coutinho, ambos eleitos em 2010.
5- Ele achava que sua missão no Congresso estava cumprida desde que delegou ao filho o comando do grupo que sempre esteve sob seu controle desde o início da década de 60. A idade (75 anos) não o assustava porque ele sabia conviver muito bem com a hipertensão e o diabetes.
6- O que o preocupava mesmo era manter a unidade do grupo em Belo Jardim, para, ''por uma questão de vaidade pessoal'', dizia, tentar eleger-se prefeito no próximo ano. Esta unidade esteve abalada no início deste ano depois que os ''demistas'' mais exaltados começaram a levar às ruas a candidatura do sobrinho, João Mendonça, que governou a cidade entre 2001 e 2008.
7- Por certo tempo, Mendonção deixou de falar com o sobrinho por achar que ele estaria sabotando sua pré-candidatura ao cargo de prefeito. Chegou, inclusive, a promover um almoço em sua fazenda para os correligionários do município e não incluiu o sobrinho na relação dos convidados.
8- Isso o distanciou ainda mais da pessoa do ex-prefeito, filho de sua única irmã, Neci. Entretanto, Mendonça Filho interveio a tempo e reconciliou o pai com o primo.
9- Foi precisamente aí que entrou em campo o malfadado ''destino'', de que nos falou Napoleão, cujo maior adepto desta tese no cenário político brasileiro foi o ex-presidente Tancredo Neves. Tancredo acreditava piamente que os passos dos políticos aqui na terra eram guiados pelo destino e que homem nenhum, por mais sortudo que fosse, seria capaz de evitá-lo.
10- Foi por obra e graça do destino que Mendonção fez as pazes com o sobrinho duas semanas antes de adoecer e um mês antes do falecimento, embora não tenha concretizado o sonho de encerrar a carreira política como prefeito da terra natal.
11- A reconciliação fez com que morresse em paz com a família e a consciência, que é o que conta na vida de um homem público.
É isso aí.
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