Por Orlando Calado
O ano era 1917. O lugar, São Bento do Una, no Agreste de Pernambuco. O nascimento era de Clóvis de Azevedo Paiva, filho de Virgílio de Oliveira Paiva e Mariá de Azevedo Paiva. Na época, o menino interiorano ainda não sabia que se tornaria um dos maiores nomes da oftalmologia no Brasil.
Quando chegou ao Recife, Clóvis Paiva trabalhou como cantor e locutor da rádio Clube de Pernambuco para custear os estudos na Faculdade de Medicina do Recife, que na época era paga. Fez tanto sucesso que era conhecido como “o cantor romântico”. Ele se apresentava nos programas Hora azul das senhorinhas e Quarto de hora com Clóvis Paiva, além de ser um dos mais requisitados locutores da rádio. Tanto é que foi ele quem abriu a programação de gala no dia da inauguração das novas instalações da emissora. Mas o pensamento era único: ser médico.
Como médico, Clóvis Paiva foi responsável por dois feitos que ganharam relevância e notoriedade no país. Com apenas 29 anos, foi o segundo oftalmologista a realizar um transplante de córnea no Brasil, sendo o primeiro nas regiões Norte e Nordeste, no Hospital Pedro II, no Recife, em 1947; e, cinco anos depois, realizou a primeira cirurgia de catarata com implante de lente intraocular da América Latina, em 1952. A notícia se espalhou pelos quatro cantos do Brasil e contribuiu ainda mais para consolidar definitivamente a carreira do professor Clóvis Paiva, como passou a ser chamado por todos.
Aos 32 anos, tornou-se o primeiro professor catedrático de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, onde, nos anos de 1965 a 1968, foi diretor. Entre 1979 e 1981, o professor Clóvis Paiva foi presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia – CBO, órgão máximo da oftalmologia brasileira. Ao longo da carreira, consolidou seu legado recebendo inúmeros prêmios, medalhas, títulos, diplomas de honra e placas de homenagens.
No livro Clóvis Paiva, um médico sem fronteiras, do jornalista Carlos Cavalcante, publicado em 2004 no Recife, há depoimentos de várias personalidades da área médica, de jornalistas, familiares e amigos. O livro guarda relatos emocionados do médico espanhol Joaquín Barraquer, considerado o maior oftalmologista da atualidade; do médico americano Louis J. Girard, professor do Baylor College of Medicine Houston, no Texas, um dos maiores oftalmologistas dos Estados Unidos; e do professor Rubens Belfort Júnior, oftalmologista mais conceituado no Brasil e no exterior.
Clóvis Paiva, que morreu em 2000, aos 82 anos, dedicou a vida inteira ao exercício da medicina e deixou para a oftalmologia brasileira uma rica história de sucesso.