A
história começa pelos olhos de uma criança. As imagens cotidianas do menino
Rodrigo, que vive na fazenda Riachão, criam as primeiras impressões do filme. O
clima interiorano, o casarão da fazenda, o belo pôr-do-sol, a boiada e o circo,
com toda a sua magia, são o prelúdio para o desenvolvimento da trama. Um lapso
de tempo e Rodrigo, já como diretor de cinema, volta à São Bento do Una e a
fazenda de sua infância para filmar a saga de Lampião, Maria Bonita, Severo
Brilhante e seu bando contra Antero Tenente e seus soldados.
“A
Luneta do Tempo” aborda o cinema dentro dele mesmo e traz a figura mais
conhecida do cangaço brasileiro: Virgulino Lampião – o mito – como um de seus
personagens principais, revestindo o filme de um caráter épico. A batalha entre
os cangaceiros e os soldados vai além das armas de fogo, peixeiras e punhais, e
ganha sua força maior na palavra e na música. Um jogo de rimas permeia o
desafio constante entre os oponentes. O circo é o elemento por onde a trama
ganha contornos líricos e lúdicos e o personagem de Nagib Mazola, o dono do
circo, traz a pitada de sedução, aventura e mistério do filme.
“A
Luneta do Tempo” é uma homenagem ao Brasil por meio da musicalidade, da beleza
e da forte imagética do agreste. Lança um olhar contemporâneo e afetivo sobre
elementos que formam a nossa identidade cultural, ao mesmo tempo em que propõe
um regresso às origens como quem observa o mundo por uma luneta aguçada em
permanente transformação, como o próprio tempo de Alceu Valença e seu universo
musical, poético e agora cinematográfico.
‘“A
Luneta do Tempo” não segue a linha de nenhum musical tradicional. No fundo, é
um mergulho que faço em minha infância, no meu passado. E este passado tem a
trilha sonora das ruas do Nordeste, dos cantadores anônimos, coquistas,
violeiros, emboladores, cegos arautos de feira, da música de Luiz Gonzaga e
Jackson do Pandeiro, do samba-canção dos anos 50, da música contemporânea
brasileira. Um documento para se pensar a cultura do Brasil e do Nordeste. ’
Alceu Valença.
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